segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Figura morta em um carro #2

2

-Como é que foi lá no hospital? – Pergunta Dona Marcia, a mãe de Marcos.
-O de sempre, mais exames e remédios.
-Ah.
-Pois é.
Marcos joga o molho de chaves na mesa e senta do lado da mãe no sofá velho.
-Sabe meu filho...
-O que, mãe?
-As vezes, eu queria tá no lugar do teu irmão.
-Tá doida?
-Pra saber o que ele sente. Como é viver assim, paralisado.
  Dona Márcia cai ao prantos, ela deita no colo do filho.
-Calma mãe, uma hora tudo isso se resolve, você vai ver. Se Deus quiser.

Ana acende um cigarro e fuma.
Ela está no topo de um prédio, sentada na beirada. Admirando a paisagem da metrópole e o céu cinza de poluição.
Ela faz isso sempre.
Não fumar, ficar no topo do prédio, observando tudo lá em baixo.
A porta de aço se abre, ela olha pra lá. É Marcos.
- Você aqui de novo? –diz ele, caminhando em sua direção
-É, passando o tempo.
-Sei.
 Ele se acomoda e se ao lado dela, na beira do prédio.
- Teu irmão deve sofrer muito.
- É.
Ela dá uma tragada e expira fumaça pelas narinas.
-Tipo, viver parado babando, sem fazer nada. Isso deve ser duro.
-Sabe, todo mundo fala isso e não sei bem ao certo o que dizer. Ele é o culpado por isso, quem mandou não checar a corda do Bunkie Jump?
-Isso é verdade. Será que...
-Que o quê?
-Que ele pode se curar?
-Acho que não, veja o estado do cara.


-Marcos, acorda !!
 Marcos, ainda sonolento, levanta da cama bagunçada e caminha como um zumbi até a cozinha.
- Que foi, mãe?
-Teu irmão...
Marcos coça os olhos, e a realidade aumenta. Dona Marcia estava sentada, perto da mesa de toalhas bordadas, ela chora.
- Mãe, você tá chorando.
- O Leo...
 Marcos caminha até a mãe, se ajoelha.
- O que aconteceu? Ele teve outra crise de epilepsia?
-Não.
-É o que foi que aconteceu?
-O Leo... desapareceu.

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