segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Figura morta em um carro #3

3

 Marcos dirigi em alta velocidade pela rua deserta, ele olha por relógio digital do carro.Vinte e trinta seis.Ele sua frio, tomou três calmantes antes de sair de casa. O carro para em frente a um prédio, onde Ana mora.
  O porteiro vê ele e o deixa entra, já é conhecido ali. Sobe cinco andares de escadas correndo até chega no apartamento numéro 48. Marcos pressiona a campanhia. Ana abre a porta e o abraça.

  -Deve ser difícil pra você- diz Ana, senta de um lado e Marcos do outro da mesa da cozinha.
  As mãos de Marcos tremem, ele não consegue falar direito. Trauma.
Ele dá um gole no café quente deixando que as palavras desçam e subam de volta para a boca.
- Por que alguém faria isso- Gagueja.
- Não sei, você tem condições financeiras, os seqüestradores podem...
- Condições financeiras, nos não temos nem onde cair mortos direito. Pagamos o tratamento do Leo com o dinheiro que o pai deixou, e esse dinheiro já tá acabando, não ia durar nem quatro meses.
 Ana dá uma golada no chá de hortelã, a marca do baton rosa fica na porcelana. Marcos tenta esconder, mas acaba chorando.
 -Sabe, eu gosto muito do meu irmão, muito mesmo...
 Ana se levanta e abraça Marcos, ajoelhada.
-Eles não ligaram ainda?
- A gente não sabe nem se seqüestraram ele.
-Claro que seqüestraram, ou como ele teria desaparecido assim, da noite pro dia?
-Não sei, não sei...

Marcos acorda.Não se lembra de nada da noite passada, só de ter ido na casa de Ana. Amnesia.
 A visão começa a desembasar e a realidade a surgir.
Ele está no telhado do prédio, com Ana. Ele ainda não lembra o que aconteceu. Marcos se levanta cautelosamente mas acaba acordando Ana.
- Bom dia. – diz ela, coçando os olhos castanhos.
- Bom dia.
- Putz, não lembro de nada de ontem a noite, só do chá.
- Eu também. Estranho né?
-É.
 Marcos se espreguiçar e fazer alguns exercícios aleatórios. Ana observa.
- Tenho que voltar pra casa. Ver se alguém ligou com informações do Leo.
- Okay.
  Ele se agacha e beija ela.
- Te amo.
- Tambem te amo.
- Tchau.
- Tchau.

  Na cabeça de Leo começa a tocar Fright Lined Dining Room. Ele escuta muito isso quando Marcos está em casa.
   Leo está dormindo, mas está ao mesmo tempo acordado. Ele não sabe onde está ou como foi para ali, só sabe que está vivo. Morto-vivo.
   - O que fazemos com ele?
   - Espere, tem mais gente vindo ai.

Figura morta em um carro #2

2

-Como é que foi lá no hospital? – Pergunta Dona Marcia, a mãe de Marcos.
-O de sempre, mais exames e remédios.
-Ah.
-Pois é.
Marcos joga o molho de chaves na mesa e senta do lado da mãe no sofá velho.
-Sabe meu filho...
-O que, mãe?
-As vezes, eu queria tá no lugar do teu irmão.
-Tá doida?
-Pra saber o que ele sente. Como é viver assim, paralisado.
  Dona Márcia cai ao prantos, ela deita no colo do filho.
-Calma mãe, uma hora tudo isso se resolve, você vai ver. Se Deus quiser.

Ana acende um cigarro e fuma.
Ela está no topo de um prédio, sentada na beirada. Admirando a paisagem da metrópole e o céu cinza de poluição.
Ela faz isso sempre.
Não fumar, ficar no topo do prédio, observando tudo lá em baixo.
A porta de aço se abre, ela olha pra lá. É Marcos.
- Você aqui de novo? –diz ele, caminhando em sua direção
-É, passando o tempo.
-Sei.
 Ele se acomoda e se ao lado dela, na beira do prédio.
- Teu irmão deve sofrer muito.
- É.
Ela dá uma tragada e expira fumaça pelas narinas.
-Tipo, viver parado babando, sem fazer nada. Isso deve ser duro.
-Sabe, todo mundo fala isso e não sei bem ao certo o que dizer. Ele é o culpado por isso, quem mandou não checar a corda do Bunkie Jump?
-Isso é verdade. Será que...
-Que o quê?
-Que ele pode se curar?
-Acho que não, veja o estado do cara.


-Marcos, acorda !!
 Marcos, ainda sonolento, levanta da cama bagunçada e caminha como um zumbi até a cozinha.
- Que foi, mãe?
-Teu irmão...
Marcos coça os olhos, e a realidade aumenta. Dona Marcia estava sentada, perto da mesa de toalhas bordadas, ela chora.
- Mãe, você tá chorando.
- O Leo...
 Marcos caminha até a mãe, se ajoelha.
- O que aconteceu? Ele teve outra crise de epilepsia?
-Não.
-É o que foi que aconteceu?
-O Leo... desapareceu.

Figura morta em um carro #1

Figura morta em um carro.


O carro está em movimento.
Um sedan cinza, modelo 2005.
Dentro do carro está Marcos, Ana e Leonardo. Leonardo sofre de sérios problemas físicos e mentais. Ele não se mexe ou fala, só geme.
O carro se movimentar pro uma avenida, dividida pela zona rural e a zona metropolitana.
De um lado, arvores, colinas e insetos. Do outro, prédio, ruas e pessoas.
Leonardo baba um liquido branco e geme. Ana e Marcos estão nos bancos da frente.
- O que é que vamos fazer com ele?
-Levar ele pro hospital, oras.
-Ah claro. Mas afinal, como ele ficou assim?
-É uma longa historia...
Leonardo observa a paisagem rural pelo parabrisa, quase encostando o nariz no vidro.
- Eu gosto de historia longas.
-Ta certo então.  Leonardo viva a vida loucamente pelo Brasil, viajava todo mês para um lugar diferente.Como é aquela expressão que usam para a grandeza do Brasil,de norte a sul...
-Não sei qual é.
-Enfim, ele viajava a beça, se aventurando pelo país. Um dia, ele foi pra uma cachoeira, acho que foi no Mato Grosso, não lembro. Ele foi pra lá e a corda que fica segurando a pessoa arrebentou.
-Eita.
-Ele caiu 55 metros, se não me engano.
-Coitado!
-Pois é, passaram dois dias procurando ele até acharem na margem, perto de uma floresta. Ele tava em coma, ficou seis meses dormindo entubado.
-Caramba.
-Até que um dia ele acordou, e até hoje ele ta assim.
-Deve ser foda pra ele viver assim pra quem teve uma vida de aventuras.
-É.
 Marcos gira o volante e o carro acompanha o movimento, fazendo uma curva. Agora a zona é toda metropolitana. Predios e mais prédios, seguidos de estabelecimentos comerciais. Leonardo geme e baba.